Formando talentos para suprir o desafio da mão de obra especializada
A partir da digitalização que gerou e segue gerando intensas disrupções na vasta maioria dos segmentos da economia – e também na adoção de novos modelos e formatos de gestão organizacional –, é natural que o mercado de trabalho tenha passado a demandar novas capacidades dos profissionais, que devem se adequar à nova realidade e às novas circunstâncias de um ambiente de negócios mais tecnológico para manterem seu papel estratégico nas empresas.
Contudo, o desenvolvimento dessas habilidades não tem acompanhado a velocidade das transformações correntes, o que cria, inevitavelmente, um gap de mão de obra especializada – que representa, por sua vez, um problema e um desafio para as companhias do Brasil e do mundo.
Para se ter uma ideia, de acordo com um estudo realizado em 2022 pela consultoria ManpowerGroup – que contou com a visão de 40 mil empregadores em mais de 40 países –, o Brasil é o nona nação com mais escassez de mão de obra qualificada.
Aqui, 81% dos empregadores enfrentam dificuldade para encontrar profissionais com a qualificação necessária, índice superior ao registrado em 2021 (71%) e também à média global (75%). Ainda, os setores que sofrem mais com essa questão são o de Banco e Finanças (86%), TI e tecnologia (84%) e indústria (84%).
Não por acaso, esses são alguns dos mercados que mais se digitalizaram nos últimos anos, haja vista o mercado de fintechs e tendências como a Indústria 4.0.
Conforme apontei no início desse artigo, essas dificuldades estão diretamente relacionadas ao avanço intenso da inovação, que possibilitou novas e ágeis soluções, as quais, para serem efetivas e devidamente aproveitadas, demandam novas e mais sofisticadas capacidades por parte do ser humano, os quais continuarão exercendo um protagonismo crucial nas empresas, mas precisam estar cientes da necessidade do desenvolvimento de skills mais analíticos e do próprio domínio sobre novas tecnologias e linguagens.
Além disso, atualmente – e já há algum tempo – o mercado de trabalho não olha apenas para a experiência e nível de execução dos profissionais, mas também para seu comportamento e sua habilidade em lidar com problemas e questões humanas – as chamadas soft skills.
O desafio – e o papel – das empresas
Em um cenário no qual a oferta de mão de obra especializada não supre a demanda, uma possível solução pode partir das próprias empresas – que, mais do que apenas olhar para o cenário externo, devem entender como buscar soluções internamente.
Uma delas é analisar a fundo e readequar processos de atração e retenção de profissionais, de modo que seja possível não apenas ser mais efetivo nas contratações, mas também entender os desejos e necessidades dos colaboradores.
Hoje, diversas ferramentas já possibilitam um recrutamento mais personalizado e inteligente e que refinam a busca por candidatos de maneira mais assertiva – mesmo em um contexto de escassez.
O desenvolvimento de novas habilidades
Segundo a pesquisa realizada pela ManpowerGroup, as habilidades mais difíceis de encontrar entre os profissionais são raciocínio e resolução de problemas, resiliência e adaptabilidade, iniciativa, confiabilidade e autodisciplina, espírito colaborativo e trabalho em equipe. Outros estudos já apontam que a grande maioria das empresas acreditam que habilidades sociais são tão importantes quanto as técnicas na rotina do trabalho.
Um caminho possível para as companhias é o treinamento interno e elaboração de dinâmicas de aprendizado com funcionários que já fazem parte do quadro de colaboradores. Isso porque, além do desenvolvimento de novas capacidades e habilidades, possibilita também uma maior satisfação – e, consequentemente, retenção – dos profissionais, o que, via de regra, está relacionada a melhores performances e resultados.
Outro ponto interessante que deve chamar a atenção das organizações é o treinamento de lideranças. Bons líderes são essenciais para o engajamento das equipes, com funcionários mais motivados, satisfeitos e envolvidos com o trabalho que realizam – e que hoje são também mais exigentes em relação às condições que buscam em um emprego.
Assim, em um cenário de escassez de profissionais com a qualificação necessária, torna-se crucial que as empresas olhem para dentro de casa, de modo que possam entender como é possível resolver parte dessa problemática independentemente das circunstâncias externas.
Claramente, apostar em práticas que têm como objetivo desenvolver os colaboradores pode resultar não apenas no suprimento de uma demanda, mas também na busca efetiva por soluções para problemas que afetam o mercado como um todo. E, mais do que isso, é investindo na formação de talentos que teremos as bases das lideranças do futuro e, consequentemente, a preservação do legado das organizações.
Olhar para esse desafio com atenção – e lapidar talentos – é, assim, um diferencial competitivo e uma questão de sustentabilidade organizacional que deve ser abraçado pelos líderes atuais que sabem analisar o hoje, sem esquecer dos caminhos que serão construídos para um amanhã de sucesso.
Artigo escrito por Alexandre Velilla Garcia, head de Administração da ANEFAC