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Governança e compliance: o equilíbrio entre processos rígidos e postura das lideranças

Governança e compliance: o equilíbrio entre processos rígidos e postura das lideranças

 

Conformidade. Transparência. Segurança contábil. O recente caso envolvendo a dívida não reconhecida tempestivamente e com cifras bilionárias da Americanas – mais precisamente R$ 43 bilhões, de acordo com reportagem da CNN – reacendeu o debate em torno da importância do compliance para o crescimento sustentável das organizações e, mais do que isso, sobre o papel das lideranças no sentido de transmitir confiança e exigir rigidez no combate a processos falhos, eventuais desvios e na implementação de controles rigorosos que assegurem o legado de uma companhia no longo prazo.

De fato, por mais óbvio que pareça – e essa verdade simples precisa ficar ainda mais clara e ser praticada na cultura empresarial brasileira – sem uma preocupação genuína e constante com o andamento do ambiente interno de processos e controles, das finanças em si, da estrutura fiscal e lisura dos registros contábeis de uma corporação, não importa o quão grande seja uma companhia: mais hora, menos hora, ela pode se ver envolta na máxima de que “tudo que é sólido se desmancha no ar”.

Pensando no cenário macro do mercado brasileiro, há um viés positivo quando pensamos no avanço dos processos de compliance no país. De acordo com dados da pesquisa “Maturidade do Compliance no Brasil” da KPMG, divulgada no ano passado, 75% dos executivos afirmam que uma cultura de conformidade é crucial para os negócios, ao passo que 71% revisam e aprovam anualmente os rogramas de compliance das empresas em que atuam.

Mas o exemplo da Americanas – e de outros casos recentes e semelhantes como o IRB Brasil e as próprias Lojas Marisa ou o Banco Nacional – denotam que é preciso fortalecer esse discurso e ampliar, de modo prático, a rigidez dos processos de conformidade e governança corporativa para que haja um ganho de confiança no ambiente de negócios brasileiro, de modo que investidores não sejam prejudicados e a retomada econômica do país prospere. Isso sem falar nos milhares e milhares de “stakeholders” (desde colaboradores da empresa, até os próprios clientes, fornecedores

e comunidade).

Ato contínuo, parece o caso, inclusive, de avançarmos em um ambiente legislativo que traga mais segurança para as relações entre organizações e acionistas – seguindo um movimento semelhante no qual acredito piamente de aprovação de leis como a Sarbanes-Oxley, dos Estados Unidos.

O caminho para o Compliance

Refletindo sobre a esfera do mercado, 6 pontos me parecem essenciais quando discutimos a implementação assertiva de processos de compliance e governança nas empresas:

● Indicadores sólidos e métodos de avaliação de riscos bem estruturados, inclusive com o suporte de auditorias externas e independentes;

● Revisão contínua de controles financeiros, fiscais e contábeis que garantam a lisura das contas de uma organização;

● Alinhamento entre a cultura do negócio e as exigências fiscais e legais do país;

● Suporte, apoio e implementação de canais de denúncia para eventuais irregularidades e desvios;

● Remuneração variável dos colaboradores que esteja alinhada a uma cultura com valores éticos e não o contrário;

● Processos de due diligence, treinamentos e aplicação de um código de ética em todos os níveis do negócio.

Além de todos esses pontos, é fundamental que haja o comprometimento da alta liderança da companhia (CEOs, CFOs e demais líderes), no sentido de que essa cultura – que, aliás, não se constrói do dia para a noite – seja vivida enquanto um pilar estratégico e fundamental para o crescimento dos negócios.

O papel e as responsabilidades das lideranças

Sem essa visão pautada pela ética e transparência, os líderes de uma companhia comprometem – como, aliás, podemos observar nos exemplos citados acima – a reputação de uma companhia e sua própria jornada profissional no mercado. Identificadas falhas no âmbito do compliance, o correto, nesse sentido, é agir com clareza e celeridade no sentido de solucionar os problemas encontrados, estabelecendo sempre uma comunicação clara e honesta com investidores e stakeholders.

Desvios, na trajetória de uma companhia de grande porte, podem ocorrer. O que distinguirá o valor de um líder será a forma como ele enfrenta aquele cenário. No caso do Banco Panamericano, por exemplo, Silvio Santos assumiu sempre uma postura transparente, preservando sua reputação como um dos maiores nomes do empresariado brasileiro – para além de sua carreira brilhante no universo

do entretenimento. Em outras palavras: um exemplo de líder em momentos de crise.

Por fim, vale reforçar um ponto que venho discutindo em meus últimos artigos e posts: o novo papel dos CFOs nas organizações do Brasil e do mundo. Com um viés cada vez mais estratégico, percebe-se o quanto os diretores financeiros têm assumido um protagonismo decisivo no sentido de garantir que uma corporação cresça e inove, sem abrir mão de controles seguros e governança. Pois o compliance, afinal de contas, não é apenas uma questão de discurso, mas uma visão determinante para o sucesso e integridade de uma organização.

Artigo escrito por Alexandre Velilla, head de Administração da ANEFAC

Fontes

75% dos executivos dizem que compliance é essencial para a empresa

Veja tudo o que aconteceu no rombo da Americanas e saiba o que ainda está por vir

AMER3: relembre outros casos de “inconsistências” que abalaram o mercado

https://exame.com/esg/americanas-governanca-de-sonhos-pesadelos-e-de-suas-grandezas-compartilhadas/

Marisa (AMAR3): ações caem 6,2% após renúncia de CEO e reestruturação; analistas veem barreiras para “turnaround”