Notícias e Informações

Radar ANEFAC - Noticias de Relevância do Mercado

Momento Econômico: reflexões sobre crises e oportunidades

Momento Econômico: reflexões sobre crises e oportunidades

Sabemos que a economia é cíclica e, periodicamente, temos crises em que o risco aumenta e as bolsas vivem momentos de muitas incertezas. Nos últimos 80 anos, tivemos, a nível mundial, pelo menos 5 dessas crises:

A Grande Depressão de 1929, quando a bolsa americana desabou, muitas empresas faliram e empregos evaporaram.

Nos anos 1980, a crise da dívida dos países da América Latina. Os países latino-americanos, aproveitando o crédito barato, se endividaram em dólar. O Brasil, de 1967 a 1974, dobrou o tamanho do seu PIB, em especial com investimentos em infraestrutura. No entanto, com a explosão dos preços do petróleo, a inflação cresceu muito nos Estados Unidos e na Europa, tendo como consequência o aumento dos juros dos financiamentos, em grande parte pós-fixados. O impacto nos países endividados foi estrondoso. No Brasil, causou a moratória da dívida de 1983.

Em 1985, a crise imobiliária e das ações no Japão. A crise começou pela limitação de crédito no setor imobiliário, que havia crescido de forma vigorosa nos últimos 10 anos.

Em 1994, a crise dos mercados emergentes, começando pelo México e se expandindo para a Ásia, Rússia e Brasil. A perda de confiança dos investidores internacionais fez com que eles retirassem os investimentos desses países.

Por último, e também importante, a crise de 2008, uma crise bem mais ampla, iniciada com a falência do Lehman Brothers nos Estados Unidos. A desconfiança impactou fortemente o sistema financeiro mundial, tendo os bancos centrais interferido e colocado muito dinheiro no sistema para que não ocorressem mais bancos “quebrados”.

Nesta última crise, se é que podemos chamá-la de última crise econômica, alguns países, os chamados “Brics”, principalmente China, Brasil, Índia e Rússia, que, pelo menos aparentemente, não sofreram muito com a quebra do banco americano e suas consequências, especialmente na Europa, tendo o ritmo de consumo continuado, puxado principalmente pelos alimentos na China, o que favoreceu o Brasil pela elevação dos preços das commodities agrícolas, consolidando assim o nosso país como uma das principais potências agrícolas.

Mais recentemente, em 2020, tivemos a crise da pandemia (fabricada ou não, não é o caso aqui), onde os governos intervieram fortemente nas economias, liberando muitos recursos para a manutenção das respectivas economias. A consequência dessa crise foi um desarranjo logístico mundial, a perda de muitos empregos ao redor do mundo e o retorno forte da inflação e elevação dos juros em todas as economias. No Brasil, felizmente, as medidas adotadas na época permitiram que rapidamente conseguíssemos retornar ao crescimento econômico após a recessão de 2020, com um PIB negativo de 3,3%, tendo um crescimento do PIB de 4,8% em 2021 e 2,9% em 2022.

Penso ser necessário este caminhar histórico para nos situarmos no momento atual da economia mundial: ainda com os impactos negativos da guerra entre Rússia e Ucrânia, além do problema recentemente agravado pela guerra no Oriente Médio entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

Diante de um quadro instável a nível mundial, houve sinais não confirmados em meados deste mês de agosto de uma possível crise de emprego nos Estados Unidos, o que poderia resultar em uma desaceleração econômica, causando uma queda acentuada da bolsa do Japão, com perda de 12%. Diante desse quadro, o receio e a ansiedade fizeram os mercados oscilarem negativamente em todo lugar. Felizmente, os movimentos dos mercados nos dias seguintes voltaram à normalidade, com a cotação do dólar, que havia fechado na segunda a R$ 5,74, recuando no Brasil, assim como a bolsa brasileira voltou a se recuperar.

Aparentemente, o momento está mais calmo, no entanto, a situação mundial continua instável pelos fatos relatados, e qualquer notícia negativa poderá novamente instabilizar o cenário econômico mundial.

Também no Brasil, os mercados têm demonstrado preocupação, em especial com relação ao volume de gastos públicos, que tem aumentado muito. Como todos sabemos, nossa carga tributária é muito elevada, funcionando como um verdadeiro sorvedouro de bons recursos da economia que trabalha para produzir e gerar empregos.

Diante deste cenário, as preocupações permanecem a nível mundial, mas, especificamente, ressalto que, no caso brasileiro, o sinal continua amarelo, afastando investimentos.

Artigo escrito por Roberto Vertamatti, economista do Núcleo de Economia da ANEFAC