Notícias e Informações

Radar ANEFAC - Noticias de Relevância do Mercado

O equilíbrio entre excelência e perfeccionismo na jornada das lideranças

O equilíbrio entre excelência e perfeccionismo na jornada das lideranças

Em artigos escritos e publicados recentemente, destaquei, mais de uma vez, a ampla e intensa competitividade presente no ambiente de negócios, um cenário que demanda um olhar atento por parte das empresas – que precisam se atualizar constantemente de modo a se adaptar às novas regras e circunstâncias de cada contexto macroeconômico e do processo de digitalização que segue a pleno vapor.

Clara e naturalmente, essa disputa do lugar ao sol com a concorrência se reflete também no mercado de trabalho, em que, cada vez mais, profissionais buscam pela excelência e, nessa jornada, muitas vezes o confundem com um excesso de perfeccionismo, principalmente em cargos de liderança.

De acordo com um estudo realizado no Reino Unido, Estados Unidos e Canadá com jovens adultos, tendências e comportamentos perfeccionistas aumentaram de forma significativa nas últimas três décadas – aproximadamente 32%.

Contudo, é importante termos em mente que a busca pelo primor não deve resultar em comportamentos que, quando levados ao extremo, podem bloquear processos de crescimento e até o entendimento sobre a importância da experimentação – que pode, sim, conter passos em falso intrínsecos.

Da perfeição à insatisfação

Conforme análise presente em um ótimo artigo publicado pela Harvard Business Review, a problemática do perfeccionismo não é apenas a necessidade desmedida da perfeição, mas o sentimento de insatisfação que persiste mesmo quando o sucesso é alcançado. A

Além disso, a busca por uma possibilidade inalcançável – posto que não calcada em realismo e objetividade prática – não necessariamente resulta em uma performance acima da média, e pode atrapalhar na busca por propósito e satisfação na atividade profissional, procura, aliás, que representa uma prioridade para as novas gerações.

Nesse cenário, cabe às lideranças, também, uma mudança de mindset, de modo que possam entender, de fato, não só seus próprios desejos e aspirações, mas também os da organização e, claro, dos colaboradores que estão sob sua supervisão.

Via de regra, profissionais e pessoas perfeccionistas se atentam demasiadamente aos detalhes e perdem o poder de enxergar o macro. E aqui vale a observação: ser analítico, exigente e cuidadoso com suas atividades é uma postura essencial para um líder e para qualquer pessoa que deseja crescer no mercado.

Todavia, é preciso buscar um equilíbrio entre excelência e ação, inclusive para termos ciência de quando nós, nossos pares e colaboradores, deram o melhor de si para um projeto ou iniciativa organizacional.

Perder a capacidade de enxergar de forma holística o todo dos processos de um negócio, aliás, pode prejudicar a qualidade de execução de toda a empresa – já que, normalmente, cabe ao líder delegar tarefas e atribuir fluidez aos processos.

Tentativa, falha e inovação

Em um contexto no qual se demanda inovação para que as empresas sobrevivam – e, principalmente, se diferenciem –, a busca exagerada pela perfeição pode ser contraproducente também na área criativa.

Isso porque o teste e, inevitavelmente, a falha, são inerentes à inovação, seja ela aplicada a processos, produtos ou serviços. Para que se possa criar algo que se diferencie do restante é necessário flexibilidade, criatividade e, mais do que isso, o entendimento de que fracassar também faz parte e é importante para a jornada.

Como apontado pelos autores do artigo publicado na HBR, colaboradores que são repreendidos por assumir riscos e cometer erros se agarram em seus fracassos, levando-os a se sentir exaustos demais para produzir um trabalho inovador e perspicaz.

Um novo perfil?

Obviamente, toda liderança deve buscar pela excelência, mas o caminho do perfeccionismo exacerbado não é o mais eficiente e, com certeza, não é o único. E tal percepção não deve partir apenas dos líderes propriamente ditos, mas também das organizações que os preparam ou os contratam.

Para se ter uma ideia, conforme um estudo realizado pela Gallup, companhias falham na escolha de seus líderes em 82% das vezes, e apenas um em cada dez profissionais escolhidos possui talento para liderar. Ainda de acordo com a empresa de pesquisa, bons líderes apresentam determinadas comportamentos – que vão muito além do perfeccionismo –, como:

  • A capacidade de motivar os funcionários a agirem e engajarem com um propósito e visão atraentes;
  • São assertivos na geração de resultados e têm a habilidade para superar adversidades;
  • Criam uma cultura clara de responsabilidades;
  • Constroem relacionamentos de confiança, com transparência e diálogo.

Portanto, apesar da exigência por excelência para que as companhias se diferenciem, é necessário entender os melhores caminhos para que se atinja padrões altos de execução dentro das empresas. A partir desse entendimento, tornar-se-á possível um caminho muito mais saudável – e produtivo – para as lideranças e, consequentemente, um futuro mais confiante e próspero para as organizações.

E, como última dica, recomendo que adotemos como mantra o conselho de Steve Jobs sobre termos paixão em nossas atividades e carreira, pois “a única maneira de fazer algo excelente é amar o que você faz”.

Referências: https://hbr.org/2022/09/the-costs-of-being-a-perfectionist-manager 

Artigo escrito por Alexandre Velilla Garcia, head de Administração da ANEFAC