Pesquisa revela que quase 80% dos colaboradores preferem continuar em home office
Muitas empresas têm retornado para a modalidade integral nos escritórios após quase 20 meses de home office. Segundo uma pesquisa desenvolvida por um grupo de pesquisadores da FEA/USP/FIA, intitulada “satisfação e desempenho na migração para o home office em 2020 e 2021”, para entender a percepção dos profissionais em relação a modalidade, a satisfação e percepção de desempenho, mostrou dados altos já no primeiro ano, ou seja, houve um aumento em 2021 neste cenário.
Dos 73% de respondentes satisfeitos, 94% se disseram comprometidos e 80% com percepção de melhorias no desempenho. Quando questionados se gostariam de voltar para os escritórios, somente 14% responderam que sim, e 78% que gostariam de continuar trabalhando em home office.
Segundo uma das pesquisadoras do grupo que realizou a pesquisa, Sylvia Hartmann, que é conselheira de carreira pela metodologia da empresa Farol de Carreira e proprietária da Sylvia Hartmann Consultoria e Treinamentos, esse retorno ao escritório tem gerado conflito entre empresa e colaborador, pois mesmo com todos os desafios enfrentados pelos colaboradores, muitos se mostram satisfeitos trabalhando em casa.
“Os números mostram uma tendência importante de que as empresas não podem esperar que os formatos de trabalho tradicionais se reestabeleçam e voltem a ser como antes do início da pandemia. A sociedade pedia mais flexibilidade para acomodar as atividades pessoais e manter uma boa gestão da saúde mental, e a tecnologia, fundamental no home office/híbrido, já estava disponível em muitas cidades antes de março de 2020”, explica ela.
O que acontecia, na visão de Hartmann, é que havia uma grande barreira de mentalidade desenvolvida nas organizações nas últimas décadas influenciada por modelos de gestão baseados em comando e controle. Por isso, ela entende que, os executivos devem ser cuidadosos com este movimento, avaliar se é realmente necessário causar outra mudança drástica ou se cabem políticas híbridas que mantenham os aspectos positivos do trabalho remoto.
Além disso, é preciso avaliar por um lado a cultura da empresa e as crenças dos executivos de alta gestão, pois sem o apoio da liderança, nenhuma mudança no formato de trabalho terá sucesso. Por outro, a percepção dos empregados. Alguns setores da economia como tecnologia e mercado de saúde apresentam altas demandas por profissionais qualificados, inclusive aqueles baseados em outras regiões geográficas, com isto, empresas mais tradicionais podem perder excelentes talentos caso mantenham políticas rígidas de trabalho.
“A preocupação com a saúde mental aumentou muito ao longo do período de ansiedade e incerteza que estamos vivendo, e vejo profissionais de outras áreas optando por empresas que ofereçam práticas flexíveis de local de trabalho em detrimento de outros benefícios. O modelo híbrido apresenta uma boa solução onde se faça questão de manter trabalho presencial em alguma medida”, pondera Hartmann.
Para que isso tudo funcione, é preciso avançar de forma cuidadosa; envolver líderes, representantes de RH e funcionários na decisão; ter abertura para rever as políticas caso haja necessidade; comunicar todas as mudanças de forma transparente, realizar treinamentos e cuidar da saúde mental das equipes. Pincipalmente, estimular ambientes de segurança para que todos os envolvidos compreendam as dificuldades dos demais. É uma grande mudança de paradigmas e todos teremos que nos reinventar. O cuidado com as pessoas é fundamental.
“A minha principal dica é que as empresas, cujos líderes decidam implementar home office integral ou híbrido, preparem suas equipes, em todos os níveis, para que a modalidade seja exitosa, traga benefícios a todos e não se torne mais uma política esquecida e negligenciada. Estamos vivendo uma curva de aprendizado, que se não for interrompida agora poderá gerar muitos benefícios ao mercado de trabalho”, finaliza ela.