
Alerta sobre os gastos – principalmente para o início de 2025
Visando contribuir com o seu planejamento financeiro, segue uma série de recomendações que podem ajudar na hora de eleger as prioridades sobre onde gastar o seu limitado dinheiro.
Ao final de cada ano, o brasileiro se vê diante da necessidade de obter mais recursos, pois as despesas com as festas de fim de ano, a compra dos presentes e, ainda, a preocupação com os importantes gastos de início de ano, como os pagamentos da escola dos filhos, material escolar, IPTU, IPVA e sobras das despesas do final do ano, sempre tiram o sono do brasileiro.
O ano de 2025, economicamente falando, começa com forte pressão para a desvalorização do Real, o que resultará em vários impactos nos preços no Brasil, pois uma boa parte dos produtos é importada; além disso, os produtos agrícolas são cotados em dólar, assim como o petróleo, minério de ferro, entre outros. O Brasil possui hoje uma das mais avançadas agriculturas do planeta, senão a mais avançada, e, com isso, grande parte do que produz é referenciado em dólar.
Por outro lado, este governo não controla eficazmente os gastos e pressiona de forma bastante insistente pelo aumento da carga tributária, que é uma das mais altas do mundo. Além do dólar, esse cenário do governo também pressiona a inflação para 2025, sendo assim, todo o cuidado deve ser redobrado em relação ao que gastar e como gastar.
Precisamos, portanto, continuar com a atenção redobrada às nossas finanças pessoais, fazendo compras e gastos com muito critério, de forma a evitar um endividamento, ou mesmo um aumento desse endividamento, que geraria mais dificuldades para o pagamento das dívidas.
Com tantas despesas, o brasileiro deve estar atento às melhores formas de pagamento, para não se endividar ainda mais. Isso é importante porque, além dos gastos com os presentes e festas de final de ano, todo início de ano vem acompanhado de gastos com tributos, como IPVA, IPTU, seguro obrigatório, material escolar, entre outros. Com relação aos tributos e gastos, temos que ter muito cuidado, pois qualquer atraso nos pagamentos pode resultar em “nome negativado” e multas, algumas chegando a 20% do valor do tributo.
Para o contribuinte que realmente tem necessidade de fazer um empréstimo, o recomendado é a modalidade consignado, que possui juros mais competitivos, ao redor de 25% ao ano. Os bancos têm como garantia a renda mensal (salário). Já no caso dos aposentados, a garantia é o benefício da aposentadoria do INSS.
Gastos pesados de início de ano:
IPTU – É um imposto próprio de cada cidade, então cada uma pode ter particularidades. O parcelamento é indicado somente para quem não tem recursos, mas não esqueça que, ao parcelar, estará pagando juros. Recomendo que as pessoas não atrasem o pagamento deste imposto, pois a multa, que varia de cidade para cidade, pode chegar a 20% do valor principal, mais os juros que variam de 1% a 2% ao mês. Atenção, pois muitas cidades estão aumentando o valor deste tributo acima da inflação. Algumas cidades têm oferecido prêmios para os pagadores em dia do IPTU. Várias cidades do Brasil publicam guias sobre o IPTU; se a sua cidade tiver, sugerimos consultá-lo.
IPVA – É um imposto estadual. Quanto ao IPVA, o desconto para pagamento à vista pode chegar a 10%, dependendo do estado. Também, o percentual de IPVA a ser cobrado depende de cada estado. Em caso de necessidade de parcelamento, é uma opção normalmente oferecida pelos estados (a maioria dos estados parcela em 3 vezes). Tirar dinheiro da poupança para pagar à vista é uma opção que pode ser interessante, caso o desconto para pagamento à vista seja maior do que o rendimento dessa aplicação, que está girando em torno de 7% ao ano.
Taxas de Licenciamento e Seguro Obrigatório – Quanto às taxas de licenciamento, o valor deve ser pago em parcela única.
DPVAT – Esta taxa havia sido extinta em 2019, no governo Bolsonaro. O atual governo conseguiu a aprovação no Congresso para que fosse novamente cobrada; no entanto, boa parte dos governadores disseram que não cobrariam, então o governo teve que cancelar essa cobrança para 2025. Mas, fiquem atentos, pois a volúpia arrecadatória é muito grande e a taxa pode retornar em 2026.
Gastos escolares – Um gasto importante nos orçamentos familiares são as mensalidades escolares das escolas privadas. Se o consumidor tiver algum problema financeiro e não tiver condições de continuar pagando, deve procurar a escola para negociar as mensalidades atrasadas, se possível, sem juros.
Outro gasto significativo, em especial no início do ano letivo, são os materiais escolares, livros e uniformes, mesmo em escolas públicas que fornecem apenas parte do uniforme e materiais escolares. Recomendamos fortemente a pesquisa de preços e, sendo possível, fazer o pagamento à vista com descontos que podem ultrapassar 10%. Caso não tenha disponibilidade para o pagamento à vista, considere parcelar, se possível no cartão, mas sem juros. No caso do cartão, é preciso ter muita atenção para não atrasar o pagamento das parcelas, pois os juros dos inadimplentes podem chegar a 100% do valor do débito, algo exorbitante.
No início de cada ano, muitas escolas cobram a matrícula (algumas já cobram no final do ano letivo); muitas vezes, isso acaba pesando no orçamento devido aos outros gastos de início de ano, como IPVA, IPTU, licenciamento e outros. O recomendado é também negociar com a escola um parcelamento da matrícula.
Importante salientar outros pontos que impactam os gastos com material escolar:
As famílias brasileiras já estão muito endividadas e o material escolar pode significar mais dívidas. Hoje, aproximadamente 78% das famílias brasileiras estão endividadas.
Pela pesquisa PNAD de novembro de 2024, o salário médio do brasileiro foi de R$ 3.285,00, cerca de 3,4% maior do que em novembro de 2023, um crescimento abaixo da inflação do período.
A questão tributária, após a questão da inflação, é a que mais preocupa o brasileiro, pois nossa carga tributária é absurdamente alta, uma das maiores do mundo, e, infelizmente, deverá aumentar neste governo. Imposto é necessário, mas um imposto exagerado, como é o nosso caso, penaliza muito mais os mais pobres do que aqueles com renda maior. Além disso, o governo, em geral, gasta o nosso dinheiro com pouca eficiência e eficácia, retirando recursos bons da economia que poderiam estar gerando empregos, apenas para se perder nos escaninhos do governo.
Segundo a ABFIAE (Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares), a carga tributária sobre os materiais escolares chega a uma média absurda de 40%, o que pesa enormemente sobre os produtos escolares. Ainda segundo essa associação, os preços dos materiais em 2025 devem aumentar de 5% a 9% – eu acredito que, em função do dólar, os preços devem estar superiores em 10% em relação ao ano passado.
De acordo com a pesquisa do Instituto Locomotiva e QuestionPro, as famílias gastaram em 2024 cerca de R$ 49,3 bilhões em materiais escolares. Este instituto também informa que os materiais escolares impactam 85% das famílias brasileiras. Considerando o aumento dos preços nos materiais escolares, os gastos com esses materiais em 2025 podem chegar a R$ 55 bilhões.
Seguem algumas recomendações sobre a compra de materiais escolares:
Faça pesquisa de preços.
Não tendo dinheiro para pagar à vista com desconto, procure parcelar sem juros.
Muitas vezes as escolas exigem certos materiais mais caros; negocie com a escola para que possa comprar materiais alternativos mais baratos.
Muitos materiais são repetidos de anos anteriores e, se estiverem em bom estado, reaproveite e não compre novos.
Para livros indicados, procure livros usados em bom estado.
Aproveite os materiais do irmão que cursou a escola em anos anteriores.
Nem sempre os materiais de grife são os melhores; busque alternativas.
Outros gastos que merecem sempre a nossa atenção:
Gastos com a saúde – Despesas com a saúde são importantes e têm um peso cada vez maior em nossos bolsos.
Uma parte da população brasileira consegue ter um atendimento razoável em relação à saúde porque possui um plano especial. É verdade que alguns planos não atendem todas as demandas de tratamento; no entanto, ainda é melhor ter um plano do que estar sujeito ao atendimento público de saúde, que muitas vezes é aquém das necessidades mínimas da população. Nesse sentido, é importante não ficar inadimplente com o seu plano de saúde para não estar sujeito ao corte no atendimento.
Os planos de saúde têm aumentado bem acima da inflação nos últimos anos, então todo o cuidado e o acompanhamento constante são necessários.
Outros gastos necessários com relação à saúde são os medicamentos, que muitas vezes acabam pesando muito no orçamento familiar, especialmente para os idosos e aposentados. Existem programas públicos de fornecimento de alguns remédios, uma opção para a falta de recursos (procure saber a respeito com a prefeitura da sua cidade ou órgãos das administrações dos estados e do governo federal).
Cartões de crédito – Se há um endividamento do qual você deva fugir sempre, é o financiamento relacionado ao cartão de crédito. Os juros são absurdamente altos, podendo chegar a 100% do valor do principal.
Mesmo que você não financie suas dívidas com o crédito rotativo do cartão, é preciso cuidado com as anuidades e tarifas. Ao invés de pagá-las, busque alternativas e negocie com a operadora para, se possível, não pagar nenhuma taxa de manutenção exigida pelo cartão. Caso o seu cartão não permita a isenção da taxa da anuidade, considere mudar de cartão e negociar com outra operadora.
Normalmente, os cartões oferecem crédito pré-aprovado. Lembre-se de que tomar este crédito, ou parte dele, é assumir uma dívida com juros altíssimos.
Tarifas bancárias – Devemos ter sempre atenção com as tarifas bancárias. Além dos juros bastante altos no Brasil, os bancos têm cobrado tarifas bancárias em diversas operações. Essa é uma tendência mundial dos bancos para reforçar suas receitas com a prestação de serviços. Verifique com o gerente da sua conta bancária toda a tabela de tarifas e negocie para reduzir algumas cobranças ou até eliminá-las.
Dicas para poupar – Além dos tributos de início de ano e outros gastos mencionados acima, a população deve lembrar que também há outras contas a serem pagas. Entre elas estão alimentação (lembrete: os preços subiram bastante em 2024), água, luz, telefone, gás, manutenção da residência e do carro, serviços com empregada e/ou diarista, além de reformas, algumas delas não planejadas.
Coloque no papel as receitas mensais e os seus gastos; isto é: controlar sempre os seus gastos através de um orçamento mensal. Quando quiser comprar algum bem, sempre faça a pergunta a você mesmo: “Eu preciso fazer este gasto agora?”. Na compra de um carro, às vezes é melhor adquirir um veículo mais barato do que aquele que você deseja, ou mesmo adiar a compra. No caso de viagens, adiar o passeio pode ajudar a economizar e a não perder o controle das suas finanças.
Tenha cuidado com compras supérfluas; lembre-se de que pequenos gastos desnecessários acabam somando um bom dinheiro no final do mês.
Recomendamos que sempre faça uma reserva para honrar os compromissos e gastos do início do ano e tenha cuidado com o crédito ao consumidor, pois ele sempre envolve juros. Nunca esqueça que no Brasil os juros continuam altos, mesmo nas modalidades mais baratas.
Necessidade de empréstimo – Caso tenha dívidas com o cheque especial e/ou o rotativo do cartão de crédito, procure quitá-las o quanto antes, mesmo que tenha que utilizar a sua poupança ou investimento. Se não tiver nenhuma poupança, então é preferível tomar um empréstimo bancário ou fazer um empréstimo consignado (juros menores) para quitá-las. Não descarte a alternativa de vender algum bem para quitar suas dívidas.
Havendo necessidade de tomar um empréstimo, examine todos os detalhes: taxas e custos adicionais com cadastro, taxa de juros, prazo, valor mensal, etc. É importante avaliar alternativas de empréstimo em bancos diferentes. E, sem dúvida, o seu histórico com a instituição pode fazer a diferença a seu favor.
De qualquer forma, se tiver dívidas, procure negociar diretamente com o seu credor e nunca utilize intermediários. Se for o caso, peça ajuda ao Procon da sua cidade.
Outra alternativa é a transferência de dívidas para outras instituições, o que abre um novo leque de oportunidades.
Aplicações financeiras – Caso tenha alguma sobra mensal de recursos, parabéns, pois essa reserva vai ajudar você a ter uma vida mais planejada, permitindo que possa comprar o que precisa com dinheiro no bolso. Se as sobras forem pequenas, aplique na caderneta de poupança (mesmo com o rendimento baixo). Caso consiga ter uma sobra mensal de R$ 200,00 ou até menos, você já pode aplicar em uma previdência privada e, assim, ter uma vida mais tranquila na sua aposentadoria. Lembre-se: quanto antes começar a poupar para a aposentadoria, maior será sua reserva no futuro. A previdência do INSS é importante, mas lembre-se de que, em função da situação gravíssima das contas nacionais, o valor da aposentadoria pelo INSS deve continuar diminuindo. Portanto, será necessária uma previdência complementar.
Cuidado com os custos com as comunicações – O telefone celular hoje é uma necessidade e, além dele, você tem TV por assinatura, tablet, etc. Cada vez mais, nossas comunicações, trabalho, serviços bancários e compras estão sendo realizados utilizando esses equipamentos. Por isso, temos que ter muito cuidado com os planos de serviços dos provedores. No caso do celular, uma maneira de controle é ter o serviço pré-pago, definindo assim previamente um valor a ser gasto.
De maneira geral, esses serviços no Brasil são bastante caros, principalmente em função da tributação abusiva. Para se ter uma ideia, o serviço de telefonia celular tem uma carga tributária da ordem de 40%, uma das mais altas do mundo. Nesse sentido, devemos utilizar esses serviços sempre de forma consciente, procurando o melhor retorno pelo valor cobrado. É importante salientar que a portabilidade hoje é garantida por lei, então devemos sempre estar comparando os serviços dos diversos provedores.
Roberto Vertamatti, membro do núcleo de economia da ANEFAC
Janeiro 2025