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Livro analisa a organização financeira pelo viés da Economia Comportamental

Livro analisa a organização financeira pelo viés da Economia Comportamental

O mundo não é binário. Pessoas não são máquinas previsíveis, nem criaturasmovidas (somente) por impulsos irracionais. Entretanto, a economia tradicional entende as decisões financeiras ruins como fruto exclusivoda falta de conhecimento técnico. Essa ótica parte de uma racionalidade perfeita, e ignora aprofunda desigualdade de renda existente na sociedade. Quando o objetivo é identificar maus hábitos financeiros para estabelecer uma relação mais saudável com o dinheiro, que tal também considerar fatores psicológicos e comportamentais? É a proposta levantada em “Finanças comportamentais: desejos, tentações e felicidade”, mais recente publicação de Emerson Weslei Dias, vice-presidente de Capital Humano da ANEFAC.

Buscando amparona Psicologia, na Filosofia, na História e nas complexidades dos
relacionamentos interpessoais, a obra constituium guia interdisciplinar e humano sobre finanças comportamentais. Ao longo de 13 capítulos, temas como neuroeconomia, educaçãofinanceira, motivação humana,comportamento coletivo, marketingsensorial, arquitetura da escolha e psicanálise são organizados para ajudar o leitor a compreender o caráter multifatorial de suas decisões financeiras – nem sempre acertadas. Prof. Emerson Dias busca, ao elucidar assuntos complexos em linguagem acessível, mostrar que é possível organizar-se financeiramente sem que haja interferência negativa das emoções no processo de tomada de decisão, independentemente do nível de conhecimento técnico em Economia.

Psicologia Econômica e a subjetividade do trato com dinheiro

Gastar mais do que se ganha, comprar por impulso, abusar do cartão de crédito, priorizar compras a prazo ao pagamento à vista com desconto. São comportamentos danosos, porém frequentes – simbolizam apenas desorganização financeira? “Se olharmos só pela Economia, sim. Se colocarmos Psicologia nessecaso, descobrimos que esse comportamento advém de significados queo indivíduo atribui ao dinheiro, de forma consciente ou inconsciente. Assim, não podemos tratá-lo apenas recomendando que façauma planilha de controle de gastos mensais. Isso é importante, mas precisamos também compreender os efeitos psíquicos, e isso excede qualquer planilha de controle”, explica Emerson.

A Psicologia Econômica é o campo que investiga os fundamentos psicológicos e as consequências dos fenômenos e comportamentos econômicos. “Não cabe apenas uma explicação da Economia para um fenômenoeconômico, é precisosempre tentar compreender a cabeça de quem teve aquele comportamento; seja um indivíduo, seja um grupo de pessoas. A Psicologia Econômica é uma busca para compreender a experiência e o comportamento humanos em contextos econômicos”, salienta o autor. Pode e deve ser usada em análises de consumidor, poupador, investidor, relacionamentos entre sócios, casais, educação de filhos, decisões de compra de empresas, imóveis, contratação de pessoas- inúmeras aplicações a nível pessoal e/ou profissional.

Teoria da Perspectiva e contribuições psicanalíticas

O estudo dos comportamentos financeiros pode ser embasado por teorias da Economia clássica. A Teoria da Utilidade presume que o agente econômico é racional e sempre tomará decisões que lhe tragam mais vantagem ou menos prejuízo, maior satisfação ou retorno. No viés da Psicologia Econômica, entretanto, prioriza-se a Teoria da Perspectiva. “Questiona-se a capacidade do agente econômico ser sempre racional, uma vez que sofre influências das heurísticas, do contexto, da emoção do momento, de vários fatores que afetarão sua visão e, portanto, sua decisão. E esta será, quando muito, ‘racionalmente limitada’. O nome vem da ideia de que indivíduos tendem a avaliar perspectivas futuras envolvendo incerteza e risco de maneira parcial”, esclareceo autor.

A psicanálise oferece suas contribuições na compreensão do processo decisório do indivíduo. Vera Rita de Mello, grande autoridade em Psicologia Econômica no Brasil eimportante referencial teóricona elaboração do livro, diz que “para a psicanálise, o componente emocionalestá presente em todas as ações humanas,tanto no plano psíquicocomo no sensorial”. Teorias freudianas defendem que “há um instinto gregário inato aohomem”; um espírito animal que, naturalmente, afeta também a economia. “Uma briga de torcidas, investidores querendo vender seus papéis na bolsa de valores, clientes em uma loja em época de Black Friday, pessoas desesperadas para estocar comida porque foi anunciada uma quarentena na cidade… É o esprit de corps – um espírito comunitário que Freud tratou de explicar”, comentaEmerson.

A leitura de “Finanças comportamentais: desejos,tentações e felicidade” é descontraída sem deixar de ser solidamente referenciada, recomendada a todos que desejam construir uma coexistência pacífica com o dinheiro. Relevante a estudantes e operadores da Economia e da Psicologia, sócios de empresas, parceiros amorosos e demais grupos que, por motivos acadêmicos, profissionais ou pessoais,precisarão conversar sobre investimentos. “Desde que li Schopenhauer, a ideia de compreender a busca por satisfação que nós humanos temos, aumentou em mim. Conectar Filosofia com Economia me fazia muito sentido. Este livro é fruto natural do meu processo de amadurecimento enquanto pesquisador interdisciplinar, como é a Psicologia Econômica”, finaliza o autor.